quinta-feira, julho 08, 2010

Te extrãno


Imagem: 1000 imagens




Uma manhã vulgar de domingo, acorda, suas mãos espalmadas circunda a cama e à procura de algo, um corpo. É de casal, pensa. Estou em uma cama de casal e é minha. Um vazio disfarçado de pano branco, lençóis, que encontra. Boca seca com gosto amargo, não tão amargo como a sensação futura, mas o suficiente para contrair em desgosto o semblante. Acidez ruim típica de ressaca intensa. Não há ninguém além dele e mesmo se tivesse não seria ela. Ela, a mulher nua, que vez ou outra, acorda com ele e - nos primeiros minutos conscientes - não se apresenta, não fala, não sorri, não sussurra quanta crueldade de alguém que se imagina amar. A solidão assola, às vezes, pela manhã, não há hora. Quanto sôfrego! Uma vez foi em sonho, enquanto dormia o mais difícil de acontecer, final de tarde é comum. Nesta manhã vulgar ocorreu mais um vez, ela chegou. E  fechou os olhos, assim sonha sem dormir, anestesia, porque a solidão traz seu sonho preferido:ela. Ela somente para ele, o momento esperado da semana, seu descanso carnal. Procurava suas mãos, encontrava novamente pano, depois insistia e encontrava suas mãos. Apertava-lhes.Era o seu bom dia. Ela o recebia com palavras "Bueno... Meu Amor, como te extraño!". Ele amava esse sotaque castelhano; ele amava sonhar, porque quem sonha é corajoso e ele tinha coragem em querer ouvir em castelhano o "te extraño". Saudades é um substantivo perigoso, dizia, imperativo, não á toa não traduzido em outras línguas. Chovia lá fora e a atmosfera melancólica já compartilhada e alguns minutos de silêncio, um afago forte, como se fossem únicos, a mitose dilacerada. Agradável existência essa do homem que sonha. Os olhos dela castanhos, negros, verdes em direção aos dele hipnotizava-os pela doçura e o encanto. Ele dizia que era o instante feliz, mas sério, taciturno. Em seguida pôs suas mãos em direção ao ventre dela e enfiou-lhe os dedos, o indicador e o médio, sem pedir licença. Alguns segundos, sentia a parca umidade, a mucosa sempre receptiva, quando tirou os dedos eles já mais molhados que umedecidos. Sentiu o aroma, sua flor preferida cujo aroma desejava todos os dias. Ambos sorriam, ambos se possuíam com gracejos e olhares, das palavras pouco se expressavam. 10:00h.Despertador toca. Abre os olhos, com preguiça, engole a saliva acre. Ciente de que aquela mulher que sonhara há pouco não existia, não havia rosto, olhou novamente os seus dedos com uma melancolia aborrecida. Só aroma de tabaco. Era uma manhã vulgar de domingo e restava-lhe, não mais os  sonhos matinais, mas  agora sua companheira habitual, a  solidão, sua esmera amiga, até o fim do dia.

2 comentários:

Júnior Creed disse...

Rapha, eu fui lendo e aos poucos ouvia mentalmente "Tu me acostumbraste" do Carlos Gardel.

Raphael Pereira disse...

Carlos Gardel...rs...sim,excelente.A Tâmara tbém curte...abs