terça-feira, novembro 30, 2010

Nós nos doamos inteiramente um ao outro

“Não tínhamos pressa. Eu despi o seu corpo com cautela. Descobri, miraculosa coincidência do real com o imaginário, a Vênus de Milo tornada carne. O brilho nacarado do pescoço iluminava o seu rosto. Mudo, contemplei longamente esse milagre de vigor e de doçura.

Compreendi com você que o prazer não é algo que se tome ou que se dê. Ele é um jeito de dar-se e de pedir ao outro a doação de si. Nós nos doamos inteiramente um ao outro.”

Carta a D. – História de amor, André Gorz

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domingo, novembro 28, 2010

Silêncios de uma tempestade

“Quem sabe isso passe
  Sendo eu tão inconstante...
 Quem sabe eu volte cedo ou
 Não volte mais...”
(Ana Carolina)

Um dia frio, um céu perdido em cinza(s). Fora: o vento! Incessante, cortando! Dentro: um algo que não defino! E que, no entanto, corta igual! Talvez um vazio, talvez uma espera que já não espera, talvez uma tristeza que já não consegue chorar, talvez uma dor que já nem sabe como sangrar. Há uma lágrima querendo acontecer, mas não encontra um jeito ( peito segura a chuva, coração contém a explosão!). Ponto-de-fuga-cego, a mesma música ainda, os mesmos erros também! Mas, tudo parece meio bobo agora. Quando o céu desaba silencioso não há como questionar tempestades. Não questiono nada então, deixo de procurar teus sinais, não me confundo mais. Deixo tudo como está. Fica tudo certo na aparente quietude de teus medos. Tudo previsto e ensaiado. Talvez se contente assim! Não eu! Não me satisfaço com essa coisa morna. Amor que desperdiça afetos, segredos impedindo o gesto, adiando o olhar. Dor pra mim tem que sangrar! Amor só serve se arder!. Porque amor por vezes dói, e têm horas que dói muito, aí não tem jeito, há de se deixar sangrar... Dói pela gente, muito mais pelo outro. Não dá pra simplesmente calar... Por isso, hoje eu saio!A porta permanece aberta, contudo não vou entrar (é saindo que estou...). A distância é a mesma, sempre foi e eu “estive o tempo todo aqui”, e  não vou dizer que “só você não viu”, porque sei que viu, notou e quis, maaaaas... É... Tem sempre um mas. Estou farta de mas! Não quero mas.  É o mais que quero! Não menos, não mas, MAIS! Complexo? Não! Simples assim! É chegada a hora de esvaziar-me além do vazio(esvaziar-me além de mim mesma), deixar de lado o que me tornei pra voltar a ser o que sempre fui. Preciso me sentir de novo, sangrar minhas dores, doer inteira até o fim. Preciso partir, enfim... Não de você! De mim! (Porque já não sangro e o sentimento é estranho...). Abandono-me então! Não abandono o sonho, tampouco você! Deixo-me perder nesse instante, pra quem sabe um dia me encontrar inteira de novo ! Sigo! Não sei bem por onde, ainda não diviso o caminho, pode ser que eu volte(só não sei quando, nem como,  nem se...)! Por agora apenas vou. E juro. Sem olhar pra trás! “ Por hoje não”! Ao menos hoje não vou olhar pra trás...

por Cris Luz

quarta-feira, novembro 24, 2010

de paixão


por isso falo tanto de paixão.
de sentir a carne tremer. o coração bater forte sempre, como se fosse sempre a primeira vez. de seguir sem medo. ah, sem medo...
por isso falo também de tesão. de querer sentir a vida dentro. pulsando.


em 22 de maio de 2010.

terça-feira, novembro 23, 2010

Sou mais aquilo que em mim não é


Sobre a noite passada apenas a lembrança de um sonho. Desejou o abraço que nunca teve, o beijo que nunca sentiu, o encostar de pés na noite quente que ainda não aconteceu. Queria ligar para contar que finalmente o viu passar numa praia cheia de gente vazia, um olhar rastreando os espaços, a íris contrastando com o intenso azul do mar e correu ao seu encontro e não agüentou tanta emoção, acordou chorando. E quis realizar esse sonho numa rapidez transversal, pensou em sair e comprar uma passagem, sem destino, sair por aí, sorrateiro, aleatoriamente, e parar na frente da sua casa, tocar a campainha e esperá-lo de braços e sorriso abertos.

"Toda a parte mais inatingível de minha alma e que não me pertence – é aquela que toca na minha fronteira com o que já não é eu, e à qual me dou. Toda a minha ânsia tem sido esta proximidade inultrapassável e excessivamente próxima. Sou mais aquilo que em mim não é." Clarice Lispector in A paixão segundo GH

segunda-feira, novembro 22, 2010

cara estranho

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não, não vai ser ninguém. minha vida não precisa dessa sacudidela gratuita. podem até tentar. todavia, se guardo esse caos dentro de mim, ano após ano do mais absoluto silêncio, é justamente para não ter de acatar dizeres os mais sem razão sobre minha pessoa, embora estes, acaso ditos, invadam meus tímpanos e, em vão, sequer estrago cause. há quem desconfie e deixo que assim o seja. caio na esparrela.  faço estripulias, saboreio o gosto de fel mais doce que me oferecem, simples, prático ante os sucedâneos cotidianos, e assim por diante: despudoradamente matando cada palavra, cada vírgula, sujeitos que não eu, predicados não meus, cada ponto de continuísmo e os finais. catarse! por isso, também não sou quem dirá sobre o alheio. não quero, não preciso. isso não me cabe. cada um faz festa no coração da melhor maneira que lhe aprouver. e se me perguntam?! falta-me intimidade para soltar verdades das mais verdadeiras… daquelas com as quais se brinca, desabafa sem se preocupar com o impacto que causará. não me dou ao luxo de perder-me de mim: infelizmente. sou estranho. é…

quarta-feira, novembro 17, 2010

essa semana estive estranha. um tal de um sono da muléstia. uma fraqueza tentando ser força. me debatendo. desabando. levantando. me querendo bem. e inconstante. me irritando por tão pouco.. desistindo por tão pouco... me entregando por tão pouco. aí vem os recados que eu ignoro. “Se cuida”. já disse que não gosto. “Se cuida” é desleixado, desdenhoso. Insistentes. a Jô pergunta-me se esta tudo em paz. a Jô mal me conhece. não, não está tudo em paz, mas não vou dizer isso a ela. no fim ela adiciona: Cuide-se. tinha carinho e cuidado nessas palavras. pra mim foram bem inspiradas. sabe aquela inspiração que vem dos céus? sim, essa mesma. me dizendo pra cuidar de mim.
cuidar do meu sono, do meu cansaço. cuidar dos meus afazeres, das minhas leituras, dos meus estudos. cuidar pra minha mente ficar sadia, pra o meu coração não ficar fraco, nem triste. eu precisava desse cuide-se. pra perceber como os cuidados vinham sendo poucos.

@azulrasgado

a foto faz referência a Sophie Calie, por conta do seu trabalho que tem como título "Cuide de você".  

em abril de 2010. 

terça-feira, novembro 16, 2010

Sobre a dor


Se eu sigo seus passos e firo meu coração, há uma parcela de culpa minha, mas que também é sua. Não que eu esteja delegando a você toda a responsabilidade de manter um coração partido, destruído. Eu não seria tão leviano. Mas diga-me olhando em meus olhos – para que eu tenha certeza que você não se perde no vazio da inexpressividade – se é justo sufocar uma dor que foi causada por outrem?

“Eu só aceito a condição de ter você só pra mim.
 Eu sei não é assim, mas deixa eu fingir e rir.”
Sentimental, Los Hermanos

Por @juniorcreed

quarta-feira, novembro 10, 2010

não corra

as placas sempre me diziam. sempre me avisaram. as vejo.
placas de trânsito dizendo: não corra.
meu professor de violão me disse: "não corra, dedilhe devagar". meu amante em uma noite dessas me disse: "pra que tanta pressa, amor?"

devagar a gente sente. se sente. se percebe. e aos outros.
devagar dá tempo de apreciar a paisagem, pensar melhor num problema, escolher melhor um presente. devagar a gente aprecia melhor o gosto da comida; a gente pensa no outro, a gente saboreia um café, olhamos - mergulhamos - nos olhos de amigos.

todas essas palavras são, pra dizer, em alto e bom som, pra que eu não esqueça mais: não corra; é um aviso, conselho, tome como preferir. mas não corra.

@azulrasgado 

terça-feira, novembro 09, 2010

Como peças de um quebra-cabeça


Ainda dava para ouvir a música que tocava distante quando deitei na sua cama e, pela penumbra, acreditei que estávamos vivendo um momento que poderia definir os outros possíveis momentos, todas as possibilidades futuras, todas as adequações. E qual não foi a minha surpresa ao perceber que nossos corpos se encaixavam como peças de um quebra-cabeça de duas partes iguais. Era a constatação da minha expressividade enquanto estendíamos nossas almas, compartilhando-as como barcos à deriva num oceano chamado desejo.

@juniorcreed

segunda-feira, novembro 08, 2010

Half Life in Full Circle...


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Tudo: fragmentos...
Nenhum riso
Parou de falar-me no violão
E não mais me devolveu
A paz.
Trancou-se entre quadro paredes
Alimenta ilusões
E pelo menos ali pensa ser grande.
Ensimesmou-se,
Ficou
Com seu
Vazio.
Mudou freqüentemente de disposição
Talvez, disse coisas que não era de sua vontade...
Inventou desculpas
Pretextos...
E transformou-me mais do que quaisquer pessoas
Afogou-me no álcool,
No sexo.
Limitou-se a existir:
Deixou de viver.
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p.s: imagem - Duy Huynh, Half Life in Full Circle

terça-feira, novembro 02, 2010

Par romântico


Será que você vai esperar o dia em que nossas estradas se encerrarão num único caminho, e uma viela cruzada vai traçar passo-a-passo uma linha que levará minha alma à sua?

Porque hoje eu acordei pensando que “meu coração é como beijo de novela” e você é o meu par romântico.


@juniorcreed