terça-feira, outubro 26, 2010

Sobre a espera

Recordou a situação quando o dia amanheceu frio e esperou o sol pacientemente visualizando o desejo ascender como raios luminosos. Poderia, como naquele dia, esperar o amor. Consciente, rejeitou o rótulo exagerado da paixão e disse para si mesmo: que eu não consiga me perder nesse emaranhado de sensações peculiares e surpreendentes, dúbias, extremadas...

quinta-feira, outubro 21, 2010

Medo.

o Grito Munch









Medo de ver a polícia estacionar à minha porta.
Medo de dormir à noite.
Medo de não dormir.
Medo de que o passado desperte.
Medo de que o presente alce voo.
Medo do telefone que toca no silêncio da noite.
Medo de tempestades elétricas.
Medo da faxineira que tem uma pinta no queixo!
Medo de cães que supostamente não mordem.
Medo da ansiedade!
Medo de ter que identificar o corpo de um amigo morto.
Medo de ficar sem dinheiro.
Medo de ter demais, mesmo que ninguém vá acreditar nisso.
Medo de perfis psicológicos.
Medo de me atrasar e medo de ser o primeiro a chegar.
Medo de ver a letra dos meus filhos em envelopes.
Medo de que eles morram antes de mim, e que eu me sinta culpado.
Medo de ter que morar com a minha mãe em sua velhice, e na minha.
Medo da confusão.
Medo de que este dia termine com uma nota infeliz.
Medo de acordar e ver que você partiu.
Medo de não amar e medo de não amar o bastante.
Medo de que o que amo se prove letal para aqueles que amo.
Medo da morte.
Medo de viver demais.
Medo da morte.

Já disse isso.

RAYMOND CARVER

Folha de São Paulo
tradução CIDE PIQUET 

terça-feira, outubro 19, 2010

Era amor...


Escreveu uma carta e beijou o envelope no final. Desejou ir ali dentro, em miniatura e tomar forma humana quando se abrisse o envelope. Não poderia fazer isso, era sonho demais. Rasgou tudo em pedacinhos e o vento levou minúsculos recados ao destino. Um dia tudo vira pó, mas ainda assim vai valer a pena ter escrito uma história.



@juniorcreed

segunda-feira, outubro 18, 2010

O amor tem uma mão só (texto por Xico Sá)

Nossa Sra. dos que Amam Sozinho ou amam mais que o outro, perdoa-me pela insistência, nem mais é por tanto querê-la, é por deixar claro, mão que sopra das intimidades dessa oração, que só ela me faz passar da conta, perversa, me faz cair no abismo mais lindo do gozo sem volta, como naquele encosto de beira de estrada, como na rodovia estrangeira de Sam Shepard, crônicas de motel, simbora!

Nossa Sra. dos Que Só Pensam Nela, cotovelos lanhados de tanta espera, tantos sustos nas ruas, nos bares – é ela!!!

Nossa Sra. Dos Cotovelos da Surpresa e das Janelas, tão gastos, cinzas, peles, dobras, e tanta fome de viver aqui dentro, megalomaníaco, épico, terá sido a força do desprezo???

Não creio, sr. Albero Moravia, meu guru de tantos conselhos amorosos. … Mesmo a paudurescência, nostalgia precoce das grandes histórias, o tempo inteiro, pensando, pensando, pensando, mas no fundo gostas!

Os joelhos lanhados pela romaria, devoção e insistência.

Nossa Sra. da Vida Alongada que consegue, nos seus exercÌcios de Kama Sutra, me levar à coisa mais sagrada. Nossa Senhora da Yoga que deixa o corpo dela como nunca dantes na história dessa pátria!

Amor demorado, anjo exterminador da alcova sem pílulas milagrosas. Amor por tê-la, rara. Beijá-la delicadamente, como um católico que dissolve na boca uma hóstia ou um evangélico que fala a língua de pentencostes.

Amar por horas, riachinhos d’águas que não se sabem donde, cada cantinho dum mapa que se inventou só pra se perder depois. O sentimento é a verdadeira bússola dum homem, perdido docemente lá embaixo, lá embaixo daquelas tuas vestes modernas que nunca te escondem.

Lua cheia, vida crescente.

Nossa Senhora dos que sentem muito e amam sozinho, rogai por nós que recorremos a vós!

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p.s: sem tempo.

terça-feira, outubro 12, 2010

Um Stonewall em meu coração






Fatigado de ilusões tardias, tão longas e tristes, chorou com um semblante límpido de desapego, lembrando de um conto antigo do Cortázar. Deduziu, da maneiras mais serena possível, que o mundo cabia na palma da mão e a vida não cabia nas páginas de um livro. Estava, finalmente, livre.




Por @juniorcreed

segunda-feira, outubro 11, 2010

Devo seguir até o enjoo?!

se hoje somos novamente raízes, folhas ou espinhos do amor de uma ex-flor, sussurro das pétalas que passaram sem passar, das pétalas que passaram sem se aproximar, das pétalas que, por um momento, deixamos de saber, algum dia fomos estranhamente rosas híbridas e cultivares, qual divino encanto no topo enigmático de nossa beleza e soberba, nascidas para despetalar de qualquer maneira. desabrochando sorrindo morrendo sonhando sermos vistas e regadas pela mais pura alegria, longe das raízes, das folhas, dos espinhos, culpando-nos às vezes por sozinha despetalar ou morrer, sendo novamente raiz, folhas, espinhos... se aprendemos?! não aqui. Devo seguir até o enjoo?!*
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p.s: *drummond

quinta-feira, outubro 07, 2010

A letra da dor

Margritte-os amantes



A melancolia nada mais é que uma recordação inconsciente.

(Flaubert)



o que ocorre é o seguinte:
X não ama ninguém,mas se apaixona muito e não é correspondido.
entretanto como na vida tudo acontece há um Y que o ama(ou pensa),quer dizer,supostamente o ama,indica que está mais para paixão do que propriamente amor.
X fica louco quando isto acontece,de se apaixonar desmesuradamente;Y nem tanto,ela,muito romântica,sorri mesmo sofrendo.
acontece que X conheceu Z,em uma noite de sexta,em um bar e chovia naquele dia e X quis,no momento que viu Z,entrar carnalmente nela,quantas vezes forem necessarios ate explodir
X é hedonista e Z também,mas esta não o acha atraente o suficiente para permitir que ele a penetre.
e muitos orgasmos pretendidos por X não ocorrerão
ah,X e Y fornicaram três vezes
(o tesão deve ser recíproco,este é um princípio moral,nas nights)
X ,não se sabe muito ao certo,conheceu Y por ser filha de uma amiga de sua mãe ou filha de qualquer mãe
na verdade,para X,pouco importa de onde vem Y
X escreveu um poema para Z ,declarou,via email:

não,não,é ridiculo demais para ser escrito aqui,o poema,mas ao final do mail,ele disse:

(...)ultrapassou a carne.
ass: X

Z
para Z é indiferente os sentimentos do X,pouco importa.porque,para ela,importa sentir prazer com W,U,L,R ou todos as letras do alfabeto,inclusive,o aramaico
Z também sofre mas não tem consciência disto:ELA RI DE TUDO.
Z precisa de amor,mas nao aceita a construção.É anestesiada pelo instante,por isso não gostou muito,quando X a presenteou com um livro de Kafka cujo o personagem,Gregor Samsa acorda desesperado.
Pegou muito mal,sob análise de Z,este livro do X.
Y
uma mulher que poucos homens se sentem atraídos,a não ser se conhecê-la bem
Y quer assistir a Annie Hall com X ou qualquer filme que,para ela,é importante
a videoteca de 37 dvds,todos continuam "virgens" à espera de X
X,Y tem muito em comum 
X,Y,Z,tem mais em comum ainda
seria perfeito se um amasse o outro em uma brincadeira de roda,porque todos se amariam
Y se atirou do 11°andar,andava angustiada com o dente inflamado e foi ao dentista e antes da consulta decidiu se atirar do 11°andar. e não escreveu carta e seu milésimo segundo de vida pensou na sua mãe-ja que não tinha- e no seu amor não correspondido por X e tbém na sua videoteca
muitos pensamentos para um milésimo de segundo de vida,pensou Y
 X
o mundo é um filme pornô onde os atores não fazem sexo...todos impotentes e amarrados com acessorios de sado-masoquismo
X começou a sofrer com a morte de Y não porque ele poderia ter correspondido,mas pelo fato de sentir o que ela sentia: a necessidade do outro "olhar" e fazer com que se sentissem que ambos existiam.
X chorou muito,com desespero
Epílogo
X de um lado sentindo-se amargo e Z ,do outro lado,sentindo um orgasmo com a letra beta,o qual acabava de conhecer há duas horas.


Raphael Marques

terça-feira, outubro 05, 2010

De quando eu busquei seu olhar ouvindo Nara Leão


Para Isadora Mozzer

Alguma coisa nova que faça algum sentido, que me perca em doses com Special K, que não seja tarde demais, que eu não me arrependa, alguma coisa que me surpreenda, meia noite, noite e meia, dia e noite, algo que me conceda paz de espírito, sem cor, nem ordem, ódio ou equilíbrio, algum amor carente, mas sem suplício, alheio, corações ilhados, alguma coisa que me faça mudar de opinião fácil, que eu mude as idéias e os fatos, alguma canção antiga, velhas roupas desbotadas, fora da rotina, alguma coisa sua, alguma coisa nossa, alguma coisa bossa nova.