terça-feira, setembro 28, 2010

Brilho eterno

Eu poderia chamar seu nome no escuro que tende a nos proteger ou nos camuflar, mas prefiro chamá-lo no claro da luz que brilha incessantemente para nós dois, assim vejo-o sair em palavra de dentro de mim e ganhar a imensidão na minha frente.

quinta-feira, setembro 23, 2010

Cotidiano sem rosto.

principio do prazer -Magritte







corriqueira sensatez
quis fazer loucura-ou tomado pela impulsividade,algo diferente- decidiu escrever cartas dizendo a ela,a sua musa,seu interesse pela vida.
na verdade,um diário,que não fosse insosso incrementado mais por aventuras e observações poéticas.
comentou sobre seu gosto de filmes em p&b e também dos seus cineastas preferidos.
escreveu,de uma forma exibida:
"sabe aqueles filmes que ninguém vê?"
acreditava que ela não sabia,como também não sabia que fazia loucuras e com ela seria mais uma.
.
 transcorreu a página amarela até encontrar um parente seu,do mesmo sobrenome.ligou e atendeu uma senhora, depois descobriu que era a sua tia.solicitou a possibilidade de enviar correspondência e entregá-la.

que senhora simpática,pensou.

amar,de forma platônica,é a forma mais cruel deste sentimento,não por ser uma ilusão,mas por criar expectativas da forma do anonimato.
sentir que é anônimo em um mundo de informações,mesmo que sejam informações em forma de lixo eletrônico,angustia qualquer um.

tomou consciência de que era rei,tinha poderes,através das palavras,dos sentimentos e percepções que ele julgava necessário compartilhá-los.
lembrou-se de que um dia escreveu:

eu não tenho rosto,eu sinto prazer quando te vejo.
e não sinto nojo em existir

incoerente também nas palavras.não entendia muito o que escrevia,então só podia ser amor.e para matar as saudades dela escolhia pessoas ao relento,no trabalho,e imaginava que fosse ela.
às vezes sorria e sua interlocutora não compreendia bem.

às vezes,para matar saudades,escolho pessoas e finjo ser você.

e ela nunca respondeu a nenhuma carta ou mail.


@raphamarques




quarta-feira, setembro 22, 2010

Parque de diversões

Foto: Google

 Amor é parque de diversões.
Precisa ter graça, muitos sorrisos, maçã do amor dividida, friozinho na barriga na descida da montanha-russa dos prazeres, uma mão segura quando a roda gigante da inquietação para lá em cima e tudo começa a balançar.
Se não for divertido e ao mesmo tempo seguro esqueça, NÃO É AMOR! 

Por Lini Ribeiro

terça-feira, setembro 21, 2010

Contínua perversidade


Você gosta de coisas apelativas, filmes pornôs e analgésicos. Diz ter dor de cabeça para não fazer sexo hoje, mentiu ontem também quando fingiu orgasmo e toma banho de porta fechada, dorme no banheiro, tem olheiras indisfarçáveis. E eu fico quieto aguardando o momento certo para discutir a nossa relação, coisa boba, conversa chata, idiotice. Tem tanta gente querendo se encontrar e eu me perco fácil em você, nas mentiras que me conta, nas suas tensões pré-sexuais. Você se esconde sob o som alto num fone de ouvido, nem me escuta mais. Eu estou cansado de amar sozinho. Eu estou cansado de olhar para trás.

Permito-me apenas insistir, pensando que talvez o que resta aos sonhadores é a ilusão da possibilidade.


Por @juniorcreed

segunda-feira, setembro 20, 2010

mas, eu te amo.

fica comigo. eu amo seu cheiro, seu beijo, a maneira como me toca, até seu falar errado. eu e somente eu sou pra você. prometo ser mais paciente. prometo ser menos ciumenta. prometo suportar suas conversas etílicas, seus gastos injustificáveis de dinheiro, sonhos e provocações. prometo te deixar entrar sem pedir licença. mas, fica comigo. sem dor, sem medo, como todos os dentes, com toda a saliva. com todo o teu amor. com todo seu ego inferior. feito para o meu amor. amor que se não for amor é uma atividade avançada de paranóia. mas, eu te amo. à minha maneira. só isso: fica comigo?!

(...)

o número chamado está desligado ou não pode receber sua ligação nesse momento.

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quinta-feira, setembro 16, 2010

Peremptório.

     mulher que chora Picasso



"que seja doce por um dia e amargo a eternidade.eu não sou infinito,eu sou hoje."
Penso.Indago.Regurgito:
vale a pena?
-sim,sim...
a minoria ,dentro de mim, grita

ao som do "where is my love" de um coral pequeno,em uma área minima esvaziada, porque a plateia,em tédio espetacular,cansou-se
tenho em mim a dúvida:
peremptório é um desejo não saciado?

where is my love está na boca de outro a sorrir feliz,nem adianta beijar o vento com a esperança de lhe tocar o semblante...
olha o comportamento de quem ama:
observa para que direção o vento persegue o horizonte,fecha os olhos,esprema-os,abra-os com o desejo pedido;beija as palmas das mãos e assopre em direção a uma brisa ficticia...alivia,sim?
alivia sim pensar que o semblante da amada será tocada por esta brisa
como uma carta dentro de uma garrafa posta no mar com o interesse de uma fada,do outro lado do continente,encontrá-la e  chamar para viver um amor
esperança esquálida!
seria melhor pensar que esta mesma fada estivesse de calcinha e fosse uma sereia sem o rabo de peixe
seria melhor tantas coisas para quem sonha e que a realidade não existisse
seria melhor deixar para lá....
a quem não consegue disfarçar a dor mesmo a sorrir exageradamente.

e perdido nestes encontros/desencontros e com fome,será que vale a pena?

-sim,sim...
a minoria ,dentro de mim, grita

e...peremptório é um desejo não saciado?


@raphamarques

terça-feira, setembro 14, 2010

Latência


Com sabor de fruta mordida aquele amor me nutria e não me desprender nunca mais daquela redoma – seu abraço – capaz de me proteger das mais compulsivas mazelas era meu ideal apolíneo-dionisíaco. Pensei, assim distraído, que aquele ambiente favorecia momentos mais íntimos e fizemos algo que, só soube depois, chamar-se amor:

 
“A latência pulsava leve, ritmada, ininterrupta. Todos eram tudo em latência.” *

 
Quando finalmente entrou setembro, como disse naquela canção**, vi abrir as janelas do meu peito e fazer dali uma morada eterna para o meu bem tão precioso e sincero. Por agüentarmos a frieza de junho e julho, nas nossas solidões ambíguas, sem verso e prosa, dos dias longos e sem graça, agradecemos àquela força do momento que nos enredava devagar e nos presenteava com as nossas presenças – tão únicas – comungando do néctar das almas, não mais desertas, um do outro.


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* Clarice Lispector in “Onde estivestes de noite”


** Sol de primavera – Beto Guedes

segunda-feira, setembro 13, 2010

metamorfoses e derradeira canção...

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sozinho em silêncio. então o mundo se apresentará desmascarado. em êxtase, se dobrará sobre os seus (nossos) pés e limparemos desilusões empoeiradas. entenderemos emoções desvairadas, curiosidades, súplicas. afinal um segundo momento, quiçá, seja duro demais pra ser esperado ou não mais existir.
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(kafka*)

domingo, setembro 12, 2010

"Então continuamos fingindo..."


"Love is a flame that can't be tamed,
and though we are its willing pray, my darling,
we are not the ones to blame..."

Pretending - H.I.M.



São tantos arrepios e sorrisos escancarados,

Seguro a boca, a roupa, e a idéia louca
De arrebatamento que vem agora.

Para que me regresse à lucidez,
Disfarço a avidez, a febre noturna e a sede,
Permaneço taciturna.

Dependurada no varal dos teus desejos,
Sou tua veste desgastada e estimada, não largas,
Queres bem rente ao teu peito.

Caprichoso nosso orgulho,
Beberagem de dois tresnoitados
Vivendo o prazer do desperdício.

Eu finjo não saber quando estás por perto,
E tu finges não saberes que eu sempre sei.
Minha frieza lânguida é ironia,
Seu sumiço é charme, pura picardia.


Por Luísa Soriano
@lous_


quinta-feira, setembro 09, 2010

Dreams e pêssegos com caldas amargas em um quarto de hotel.

Hotel Room,Hopper

Um homem é um gênio quando está sonhando.
Akira Kurosawa


SONHOS

na expectativa de vê-la aqui,ao fazer caretas,à minha frente burlesca e receptiva às minhas carícias,ponho-me a sonhar acordado,oh garota infernal, meu sonho mais prazeroso,um dia a sentirei pele a pele os teus poros a dilatar por mim e assim farei valer essas presunções.  De um porco que engorda com a solidão,esmera toques ao vazio,lê "amor nos tempos do cólera",escreve poemas desconexos e anda da cozinha para o banheiro,combinado com a cama sem colchão,sem travesseiro,sem perfume,sem o chão amostra,triste,no meio do meu quarto,eu e só e um talher(colher de chá).

REALIDADE


onde está meu amor? talvez nos lábios de outro,a pensar em outro,a sofrer por outro,todo o outro que não está em mim mas se soubesse por onde andas meu amor, as cartas enviadas ao endereço errado,estas cartas e eu,em um mesmo envelope,em letras grandes,gigantes como o meu desejo,salivante,por ti:

NEVASCA, NÃO PERDER CONTATO.
NAO CREIO NA VIDA ALÉM DE HOJE,NÃO É PLATÔNICO.
O REAL É TE QUERER,MUITO QUERER...LEMBRA-SE DE MUITO LIQUIDO A SER EXPELIDO AGORA,EM MEU CORPO DA VONTADE ESCRAVA DE TI.
VOCÊ É O MEU TWISTER,MEU PREFERIDO EXISTIR.

ASS:ALGUÉM QUE VOCÊ OUVIU POR 1:33MIN ININTERRUPTOS

O SOBRENATURAL LATENTE DE MENTES IMUNDAS


após sonhos e pêssegos ,a TV ligada,com a colher de chá ao lado,um livro inacabado,relógio e tic-tac(digital bem antigo),quadro cuja tinta desgastada pelo tempo,com ranhuras. As ranhuras,na tela, era do sol de verão.não era uma pintura feia,era uma simples realidade;havia flores,que estavam dentro de um vaso negro e o sol,encardido,parecia ter sido bem límpido...parecia mesmo um quadro do Hopper,esperanças corroídas...faltava o livro. Uma mente imunda para o quarto insólito e a nevasca não parecia querer acabar,porque estava tanto lá fora como aqui dentro de mim. Peguei o livro,a colher de chá e enfiei dentro do pêssego,parti-o em dois .o inteiro à metade,pensei.e comecei a chorar.
 
 
 
Raphael Marques

quarta-feira, setembro 08, 2010

Luz das velas

"O amor prefere a luz das velas. Talvez porque seja isto tudo o que desejamos de uma pessoa amada: que ela seja luz suave que nos ajude a suportar o terror da noite. Sob a luz do amor que ilumina modesta e pacientemente, o escuro já não assusta tanto. É noite de paz!
Rubem Alves em "As Velas"

Lini Ribeiro

terça-feira, setembro 07, 2010

Incandescente



“Tem um aviso na porta do meu coração:
Quem não dança conforme o ritmo da casa, não perca tempo tocando a campainha."
Maria Bethânia no show “Drama – Luz da noite”


Como se um fosse cópia do outro e essas cópias se unissem e desejassem o contato somado, somando. E nada mais restasse ao tempo, ao vento, às dores, as cores. Esqueceria fácil da existência fora daquele quarto, de um mundo além da porta. Serenava nas nossas costas largas, um orvalho salgado para uma sensação doce, comungar do prazer do outro, das dobras da pele, apagando o fogo com o suor que minava da incandescência máxima do limite do prazer. Dormir junto e amanhecer a cada instante. Os pelos do peito forte em total sincronia com a aura, luminosa, que concebia ao simples toque de seus dedos em minha nuca, um choque de idéias que, assim como a calada da noite, trazia um mistério inebriante.

Pareceu cena de novela assisti-lo acordar nu em minha cama grande, um corpo igualmente grande, tão igual ao meu, em detalhes diversos.



Por @juniorcreed

segunda-feira, setembro 06, 2010

era ela.

o corpo. o movimento. o jeito. o pensar. suas imperfeições e demais defeitos. "é ela..."

durante e após o banho, estava decidido a não se importar com os que se metem a pensar demais o amanhã com o mesmo recato das missas de domingo. não era porque ela tinha uma maneira especial de amar pelo avesso ou fingia certos sentimentos que não poderia merecer o amor das estrelas. ora, todo mundo sofre, todo mundo ri e chora. quem não finge, afinal?! e ela, ela parecia sentir mais que os outros, com uma obsessão quase indecente de não se desculpar ou não sentir culpa por haver peremptoriamente guardado na caixinha das recordações as coisas mais banais.

"é ela que amo tanto..." beijou-a. fechou a porta e partiu, assim. ainda aceso por dentro, por fora, com o cheiro do cigarro e do corpo dela suaves impregnado nas narinas. um mundo esperava-os lá fora.
(...)
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por @m4theuzz

quinta-feira, setembro 02, 2010

O homem e seus desejos


Modigliani, Nu Vermelho






Eu te amo porque te amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Drumond


O homem escravo do seu mais intenso desejo decidiu parar de amar após o susto de que todos os sexos poderiam tornar-se assexuados. Ele pensou: a mulher vai perder seu sexo, vai ser uma barriga estendida sobre o ventre. Pele sobre pele olhou as plantas em forma V, pegou-as.Sentiu o aroma,fez careta e fez a observação de que aroma de boceta é boceta. Começou a sofrer porque havia decidido interromper o amor que sentia desde os seis anos de idade pelo o sexo oposto. Gostava de sonhar que as mulheres menstruassem e repugnava seus amigos pelo nojo que sentiam do sangue e de algumas secreções femininas apesar de polido sentia urticárias ao enxergar o mundo dos homens porque  não tinham a habilidade de encontrar no universo feminino o humanismo necessário para que temperassem as suas vidas. E os que tinham condição de enxergar,estes homens,geralmente artistas ,como Almodóvar,sentia ciúmes descomunal. Não queria dividir esta ''sensibilidade" cujo Fellini-outro, ainda bem que havia morrido-permitira o despudor de afirmar como "concha do mar". Afinal, o temor de que de o mundo dava piruetas e metamorfoses aconteciam, deixou-se inspirado a escrever versos, ruins, mas  versos que carregavam nas palavras a sua dor: Boca farta de lábios,aroma,formosa onda vertical


Tomou anti-depressivos e com fome quis comer sanduíche de ovelha, de preferência ovelhas gordas encomendou na feira e todo o seu ato, de comer ovelhas, tinha uma motivação: a filha do feirante. masturbava-se o quanto podia pensando naquela boceta e mesclava pensamentos de magia, lã, púbis e possibilidade de não contrair câncer da próstata.

"Meu Deus", pensou, "como amo as mulheres!".

Amor excessivo é insano ainda mais por um sexo; chorou. Voltou a pensar na barriga estendida sobre o ventre, na pele sobre pele...Que mundo! A vida,não péssima, deu um presente ao homem escravo: um ataque cardíaco. Não viria o mundo novo,assexuado,e com mais nojo do sexo das mulheres. Com 72 anos de idade , e com seus percalços, não houve tempo para fazer seu sanduíche de ovelha; não houve tempo da filha do feirante o olhar sem indiferença.


Raphael Marques