quinta-feira, julho 15, 2010

A Morte Feliz

A morte era um desafio. A morte era uma tentativa de comunicação, porque as pessoas sentem a impossibilidade de atingir o centro que misticamente lhes escapava; o que nos está próximo foge‑nos; o entusiasmo desvanece‑se; fica‑se sozinho. Na morte existe um abraço.Virginia Woolf




Os olhos dela diziam: “acabou, nosso relacionamento morreu”. Os olhos expressam as verdades mais doloridas e é eficaz como instrumento dilacerador das ilusões. Apertou a minha mão, comunicávamo-nos sem palavras, apenas com o olhar  e mesmo perdidos, sem chão, desalentos, sentimo-nos flutuar  e eu a engolir agulhas. Agulhas que ingressavam pela garganta lentamente, uma por uma, sem saliva, na secura da realidade que aproveitava cada pedaço do meu corpo.  Entranhava. Doía, como doía, dor insuportável que  se convertia em lágrimas.

É, acabou... Finalmente acabou a eternidade deveria ser um presente para os apaixonados. Fechava o caixão, jogava terra e olhava ao fundo sendo enterrados cinco anos de uma relação que um dia sonhei nunca acabar e sempre continuar, mesmo após a morte, por sucessivas  reencarnações, via  terminar,com flores,cravos brancos,jogados ao féretro, para serem enterrados como o símbolo da única beleza que restou: as lembranças das sensações que tivera com ela.

Seria a  minha última tentativa, dentre tantas, esta, a do olhar, o epílogo daquele grande sentimento e um inicio sem futuro, sem perspectivas. O semi-Deus aqui se tornava mortal, pois não funcionou algumas vezes a razão floresce para acabar de vez com qualquer sonho, com o auto-engano, anestesia que posterga o sofrimento. 

Não morria somente o relacionamento com aquela mulher maravilhosa que seria mãe de uma ninhada de filhos meus, mas morria a esperança no amor. Não havia outra a quem podia substituí-la, nenhuma mulher estava à altura;nenhuma gostava dos livros que eu lia ou escutava pacientemente para que me prolongassem nas vivências de meus personagens preferidos ou mesmo compartilhasse uma piada que sabia,por conhecê-la,que ela iria sorrir;nenhuma escutaria com afinco The Smiths e entenderia a melancolia das letras dessas canções. 

De falência múltipla, simplesmente aconteceu, sem prévio aviso, morreu porque viveu. Não teríamos mais os sábados de noite juntos, o milk shake de ovomaltine, os filmes da Nouvelle Vague que curtíamos após as 20h,as brigas provocadas, com o desejo, em seguida,de beijá-la e dá-la um abraço,como amigos que realmente éramos.

Amigos e amantes para sempre, não havia mais. Compartilhar, apenas com a solidão. Elaborar luto, negro futuro. Respirar fundo. Enxugar lágrimas e não pôr nas basuras da vida qualquer resquício de que ela existiu.  Não foi horrível meu sentimento, não senti raiva porque sofri e passaram-se cinco anos com uma cicatriz que olho e sorrio. Cicatriz boa, penso. Cicatrizes servem para dizer que tivemos um passado e este passado foi generoso comigo.

Com tanto orgulho gostaria de dizer a ela, o ”obrigado” por me fazer sentir mais humano! E dá-la um abraço, mas agora não  como amigos x amantes, apesar de meu coração não ter, ate agora, proprietária porque é um esbulho total.

                                                                                                                                                      Raphael Marques

Um comentário:

Anônimo disse...

Ela poderia ter sido a mãe da tua penca de filhos, a tua companheira ideal e acabou se tornando uma lembrança, uma parte boa da tua história.

Porém não existe pessoa igual a outra. Não há porque perder a esperança no amor. Com certeza, descobrirá alguém que encha o seu dia com novas sensações, cheiros, cores e sabores e que tornará a tua existência completa. E para isto, retome a posse do seu coração. Esteja aberto para estas experiências que podem surgir a qualquer momento e ir embora com a mesma facilidade, se não souber aproveitá-las.

Achei o link do blog pelo twitter e apreciei muito.

Felicidades. Desejo-te sorte no amor.