quarta-feira, junho 30, 2010

Sobremesa


- Vou ao banheiro antes de pedirmos a sobremesa, está bem?

Assim ela o informa após o jantar. Era meio da semana e não estavam comemorando nenhuma data especial, simplesmente porque eles sabiam que datas especiais podem ser uma arapuca pra decepções, caso algum deles esquecesse de alguma.

Então decidiram que qualquer momento seria especial, como aquela quarta-feira onde a coisa mais extraordinária acontecida foi a conexão ter ido abaixo no trabalho dela, a impedindo (coitada) de fazer hora extra até a meia noite.

Ele sente a presença dela atrás de sua cadeira, denunciada por aquele perfume adocicado. Ela chega mais perto e coloca nas mãos dele alguma coisa feita de algodão e fitas, neste momento ela abaixa e sussurra em seu ouvido:

- A sobremesa não poderá ser servida na mesa, meu amor.

Ele abre as mãos e vê uma minúscula calcinha...

- Garçon, por favor a conta!

Diz ele em meio a um olhar incrédulo pra aquela mulher sem nada por baixo do já transparente vestido.

Por Line Ribeiro

terça-feira, junho 29, 2010

Pêra, uva, maçã


Como numa frase daquele livro de Goethe, “no antegozo de todos os prazeres subiu ao cume, e estende os braços para cingir todos os seus desejos”, suspirava numa mistura de ansiedade e volúpia, ainda que não soubesse muito bem o que era aquele sentimento. Dois minutos se passaram, quando finalmente senti o torso grosso e quente encostar-se às minhas costas frias, as semelhanças – tão suas e minhas – arrimar ao sul do meu corpo e ao virar-me sob a escuridão só sentir o ar saindo das narinas, tocando no vazio do ambiente e as mãos curiosas entrelaçando em cada viela do corpo para culminar num abraço... Éramos só um agora. Extensões múltiplas de nossas variáveis carnais que se encontram numa sinfonia sincronizada, deliciosamente ritmada. Adentro o éden em jatos de proporções vulcânicas. Sob o peito peludo e largo, busco no encontrar de sua boca, um néctar pecaminoso, onde jaz o mais puro gosto do fruto sagrado.






                                                                                                     Por Júnior Creed
                                                                                                         @juniorcreed

quinta-feira, junho 24, 2010

Eu.



“São tempos difíceis para os sonhadores...”
( Do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain )




Foto: Ivan




Amante do silêncio que dialoga com a solidão e curte o ócio "viajar" olhando o teto do quarto: um paraíso onde vivencio meus sonhos e alhures. Este sou eu: mais um amante sonhador que além de respirar, pretende viver. E viver é amar, mas amar sem pejo. Não há como oprimir o suor em nossos poros, assim como não há como viver sem amar. E, se me perguntassem o que eu sou, eu diria: Sou os livros que li e os amores que vivi. Ambos os prazeres que me permito saboreá-los e assim a caminhar com os pés descalços on the road da vida. E ao amar sinto um prazer intenso, alimento meu humanismo e me construo um hedonista. Um humano hedonista...ou vice-versa!


Raphael Marques

quarta-feira, junho 23, 2010

Diamante Bruto

Faz da tua alma um diamante.
Por cada novo golpe ,
uma nova face,
para que um dia
seja toda luminosa.
- Rogério Stela Bonito -


Sou um diamante em estado bruto à caminho da lapidação. Dizem que diamantes são eternos, como acredito na aternidade da alma, ainda afirmo que sou um diamante, bruto, porém um diamante.

Dizem que os diamantes são pedras tão duras e resistentes, que cortam o vidro. Afirmo minha resistência por minha história de vida, resisti, sobrevivi e a jornada até aqui fez meu coração se endurecer um pouco, o que ainda me enquadra no perfil de diamante, não se esqueçam, pedra preciosa em estado bruto.

Diamantes brutos são feios, à primeira vista não encantam e um leigo passaria por ele sem dar valor algum. Há que se ter olho pra identificar diamantes, há que se ter mãos exímias para o lapidar. Sabia que o brilho de um diamante depende principalmente de sua lapidação? É trabalho de mestre,trabalho do tempo, tarefa para pacientes.

Estou nas mãos da vida, quem me lapida é o tempo, quem me aperfeiçoa são as convivências. Não quero brilho, quero luz! É este o segredo dos diamantes, a luz que reincide sobre eles.

Como diz Anitelli: “luz, na cabeça e nos olhos, no sorriso do justo, feito pra iluminar”

Por Line Ribeiro

terça-feira, junho 22, 2010

Sê humano



“Maravilhoso escândalo: nasço”

Clarice Lispector



Sigo tranqüilo... Sentimentos em slow motion numa estética verdadeiramente kitsch e surreal, desço para o mundo numa escada imaginária e curvo-me à beleza das águas de latrinas que escorrem pelo bueiro de uma tempestade que não vai passar tão cedo. Guardei numa caixa de sapatos os meus segredos mais íntimos e ouso revelar em cartas longas que escrevo a mim mesmo, meu melhor amigo. Defino-me como humano. E carece mais? Todo o vocábulo carrega o forte gosto do amor e das hemácias, tudo é tão vermelho-Almodóvar, intensidade em pontos, vírgulas, exclamações e interrogações. Desespero-me ao virar a esquina de verbos, substantivos, palavrões e adjetivos. Trago comigo as dores e as cores, sinto prazer em pintar meu dia, girar com guarda-chuvas enormes e rubros em ruas lotadas. Sou um coração alado e pulsante a procura de um lugar confortável. Entrego-me sem garantias. Faço festas curtas, sou um turbilhão de emoção, o gozo mais fácil e forte, o sangue mais quente e doce, o desejo mais profano e sutil. Sou tantos e um só, me perco nos vários id do meu ego e superego. Vou me revelando aos poucos, relevando aos tolos, resvalando euforia.




Júniór Creed