terça-feira, julho 06, 2010

Saturno em Aquário



                                                              “... No presente a mente, o corpo é diferente
                                                                              E o passado é uma roupa que não nos serve mais...”
                                                                                          (Velha roupa colorida, Belchior)



Você se sente tão mau depois de fazer aquelas coisas, depois de trocar fluidos corporais e tomar antidepressivos para o sono vir mais rápido e evitar cafeína para não ativar o corpo, a mente, a adrenalina, você se perde no meio de coisas pérfidas, pensamentos confusos, barulho de relógio, fumaça de cigarro. Você não pára mais em casa, porque a casa é grande e as paredes emitem diversos barulhos, xingamentos, e você não quer ouvir nada, senão buzinas de carros apressados, conversas de estranhos em bares da esquina, copo caindo, copo quebrando, corações dilacerados, o cotidiano amarelo-manga que passa e ninguém sente, que passa dormente, meio-dia, meio morfina, meio xilocaína, meio antibiótico, meio água oxigenada, meio soda cáustica, meio gripe, meio tosse, meio solidão, meio cochilo no sofá e resto de comida, meio formiga no bolo de manhã cedo, passos que seguem outros passos em qualquer banheiro sujo, uma vista para um mar parado, um barco destruído, sem vento, sem pássaros, sem maré, sem dó, sem ré, sem mi, sem mim.



                                                                                             Por Júnior Creed
                                                                                                 @juniorcreed

8 comentários:

Projeto Neytter disse...

Ai, ai! Só desejo que o rpzinho do texto consiga ver as cores infindas para além do amarelo-manga e das possibilidades abertas pelas pseudo-ausências...

Anônimo disse...

E eu, Aquário em Aquário, não podia ser muito diferente né?... há dias, venho andando entre meio-isso e meio-aquilo..e bem sem dó, nem ré, sem mi e nada de mim.

beijos meus, Cariño

Line Ribeiro disse...

Este texto me passou um vazio de vida bem grande! Um grito por socorro, uma alma solitária e sem perspectivas.
É isso? =)

Bjm

Anônimo disse...

Lindo... vou chorar!!! Pronto, já comentei!!!
kkkkkkk

Jan

ítalo puccini disse...

uma densidade muito bem descrita, sentida, para o leitor.

muito bom!
parabéns!
abraço.

Anônimo disse...

NOssa!! Enfim, sem mim...sem piedade. Dizem: ....

Emilly ;D

mentira disse...

forte, tenso, intenso...

vivianne disse...

O título do post diz por si só. é exatamente isso, nada sai do amarelo-manga.