Imagem: DevianArt
O bom seria saber dizer todas as coisas. Como se faz nos livros e nos filmes. Script cheio de palavras certas e todas claras na hora exata. Eu queria saber dizer todas as coisas bonitas que vejo por ai. Que troco o dia pela noite. Que observo o mundo por trás de uns óculos escuros pra enganar a mulher enxerida que sou diante dos fatos. Que ouço Debussy, vou ao supermercado, academia, penso num namorado que ainda não conheço e escrevo invencionices porque em mim ainda há altas doses de lirismo e ficcionismo que me fazem reinventar um mundo ou fugir de tudo pra sempre. E eu devia ser mantida em cativeiro por pensar em sexo mais do que devia e por falar de amor até ás três da manhã. Se eu soubesse como dizer, hoje eu falaria de tudo. Sem medo. Sabe aquelas coisas que se fala antes de morrer? E passaria o dia á Deus dará, sem pensar em nada só pra pensar em você. Passaria o dia pensando em nossas imagens no espelho e pensaria também na gente pelas ruas, de mãos dadas, ou fazendo tudo com capricho pra nunca fazer o outro sofrer. Por muito tempo, tanto que já perdi a conta, fui sozinha imperando meus estados. Fui aquela coisa caótica de pós-modernista, cobiçada em sala de aula, bajulada por nobres poetas que deixavam versos em qualquer ponta de esquina e odiada pelas mulheres em banheiro feminino. Até você chegar, com a violência causada do querer. Parece que falta ar. Parece até o fim do mundo esse seu querer desesperado que grita quase num lamento ou prece sussurrada em lábios que come beijo. Parece mesmo que me perdi e só me encontro quando você chega, come, bebe, investiga as fechaduras e me lambe as coxas pra rir da minha cara sem vergonha depois. É veja como eu fico. O amor é mesmo uma coisa de doido. Tiro minha calcinha e fico ali anestesiada esperando calada para dar tempo de você alcançar meu ritmo e, quando percebemos, somos dois sendo nada e sendo tudo. E que inveja sentem nossos vizinhos quando o mundo dorme e nos cobiçamos. O mundo dorme e meus gemidos é a orquestra da nossa casa. Toda madrugada ainda é pouco, não sacia e come mais que a fome de nossas vigílias.
Por Tâmara Lopes
6 comentários:
que baita ficção! adorei o ritmo com que ela envolve o leitor.
É bom não saber dizer tudo. Às vezes, o que faz diferença, toda a diferença, é justamente o indizível. Como a sensação que se tem ao ler o que você escreveu.
Um beijo.
Se reconhece um bom trabalho quando se lê ou vê!!
Bom fim de semana.
Abraços.
Fiquei preso nesse texto.
Liberdade!
Delícia.
Essa nega é fogo na ropupa, como diria meu avô.
Bjoooo
Lini
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