quinta-feira, setembro 23, 2010

Cotidiano sem rosto.

principio do prazer -Magritte







corriqueira sensatez
quis fazer loucura-ou tomado pela impulsividade,algo diferente- decidiu escrever cartas dizendo a ela,a sua musa,seu interesse pela vida.
na verdade,um diário,que não fosse insosso incrementado mais por aventuras e observações poéticas.
comentou sobre seu gosto de filmes em p&b e também dos seus cineastas preferidos.
escreveu,de uma forma exibida:
"sabe aqueles filmes que ninguém vê?"
acreditava que ela não sabia,como também não sabia que fazia loucuras e com ela seria mais uma.
.
 transcorreu a página amarela até encontrar um parente seu,do mesmo sobrenome.ligou e atendeu uma senhora, depois descobriu que era a sua tia.solicitou a possibilidade de enviar correspondência e entregá-la.

que senhora simpática,pensou.

amar,de forma platônica,é a forma mais cruel deste sentimento,não por ser uma ilusão,mas por criar expectativas da forma do anonimato.
sentir que é anônimo em um mundo de informações,mesmo que sejam informações em forma de lixo eletrônico,angustia qualquer um.

tomou consciência de que era rei,tinha poderes,através das palavras,dos sentimentos e percepções que ele julgava necessário compartilhá-los.
lembrou-se de que um dia escreveu:

eu não tenho rosto,eu sinto prazer quando te vejo.
e não sinto nojo em existir

incoerente também nas palavras.não entendia muito o que escrevia,então só podia ser amor.e para matar as saudades dela escolhia pessoas ao relento,no trabalho,e imaginava que fosse ela.
às vezes sorria e sua interlocutora não compreendia bem.

às vezes,para matar saudades,escolho pessoas e finjo ser você.

e ela nunca respondeu a nenhuma carta ou mail.


@raphamarques




2 comentários:

Anônimo disse...

FODAsticooooo!!

ítalo puccini disse...

muito muito bom! o cotidiano engole a gente, se assim deixarmos.