terça-feira, setembro 14, 2010

Latência


Com sabor de fruta mordida aquele amor me nutria e não me desprender nunca mais daquela redoma – seu abraço – capaz de me proteger das mais compulsivas mazelas era meu ideal apolíneo-dionisíaco. Pensei, assim distraído, que aquele ambiente favorecia momentos mais íntimos e fizemos algo que, só soube depois, chamar-se amor:

 
“A latência pulsava leve, ritmada, ininterrupta. Todos eram tudo em latência.” *

 
Quando finalmente entrou setembro, como disse naquela canção**, vi abrir as janelas do meu peito e fazer dali uma morada eterna para o meu bem tão precioso e sincero. Por agüentarmos a frieza de junho e julho, nas nossas solidões ambíguas, sem verso e prosa, dos dias longos e sem graça, agradecemos àquela força do momento que nos enredava devagar e nos presenteava com as nossas presenças – tão únicas – comungando do néctar das almas, não mais desertas, um do outro.


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* Clarice Lispector in “Onde estivestes de noite”


** Sol de primavera – Beto Guedes

Um comentário:

Ney Alexandre disse...

Tão bom relembrar Clarice e Beto... Bom ler vc sempre, hermanito. Tbm postei hj lá no meu cantinho.