sexta-feira, agosto 20, 2010

Vastas Tempestades





Não mato a sede de ninguém. E bem no sentido mais estrito da palavra: ninguém. E se existe algo que realmente mato são as conveniências. Mato tudo o que é grosseiramente prosaico e comum, para não dizer insolitamente vulgar. A gente passa a vida procurando o sentido das coisas e ao fim de tudo nos deparamos com pessoas que mais cedo ou mais tarde inventará qualquer mentira para se salvar das tais conveniências. Eu rio. E com efeito! Um mundo de faz-de-conta se cria com tanta facilidade e tão naturalmente como se na verdade, tudo isso fosse uma ilusão. Estou exteriorizando minha indigestão. A gente envelhece e não me preocupo com isso. Antes, eu pensava que seria uma velha tatuada aos 30 anos. E agora, vejo que carrego mais dúvidas do que costumava ter quando menina. E na quase oficina do meu entendimento, acabei de ler Raduan Nassar. Lavoura Arcaica. E vou me aflorando e nada me impede de entregar-me ao erótico senso comum do abismo que me permito. De fio a pavio eu ia me amando e me enfiando em tudo o que não é culpa. E vou sussurrando entre lábios: ”(...) não tenho culpa desta chaga, deste cancro, desta ferida, não tenho culpa deste espinho, não tenho culpa desta intumescência, deste inchaço, desta purulência, não tenho culpa deste osso túrgido, e nem da gosma que vaza pelos meus poros, e nem deste visgo recôndito e maldito, não tenho culpa deste sol florido, desta chama alucinada, não tenho culpa do meu delírio (...)”. É disso que vivo. Estou exagerando, eu sei, mas estou á flor da pele e não bebi ontem, nem hoje e escrevi uns poemas pra diluir minhas intrigas que são meninas bem vestidas, ingênuas e putas. Mas, não sou poeta. Nem gracejo rimas. Nem me atrevo com as palavras. E tenho medo de errar, morro de amor e sinto tesão e não tenho vergonha em dizer que amor raso não serve. Humana e mulher e procuro versos num livro que nunca fora escrito. Talvez eu seja estúpida, mas hoje é apenas um dia frio de vastas tempestades.
 
 

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