quinta-feira, agosto 19, 2010

Sentidos

“The Key” (A chave) [1946] de Jackson Pollock



"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro? Deve haver um porto."

(C.Fernando Abreu)



se decidisse pintar meu sofrimento não teria idéia de como seria
um quadro natureza-morta ou cubista ou dadaísta
um surreal de Magritte ou o clássico renascentista , que , me parece,na maioria das suas obras,contido,frio, indiferente.
Aqueles nus distantes,intocáveis;ou mesmo expressionista como o “grito" de Munch.
Uma dor à Kafka
bem,quanto ao sabor,nada insosso, creio que seria sabor de lágrimas,nada muito amargo longe do doce,pois a doçura enjoa,e como sou melado,transpiro mel.
(não toca em mim,garota,aviso,você vai grudar!)
Sentimentos espremidos de cores insanas,mescladas alguns instantes de vazio e esperanças corroídas que caminham com a vida,extenuante.
O tato áspero,sempre áspero.O toque que me deliciou,partiu há tempo,deixou-me rusgas,cicatrizes que olho e me corre lembranças,agradáveis,salivantes lembranças.
lambo meu passado e teu sabor me persegue,por toda a estrada,me leva contigo esta agonia,paladar que degusta tudo o que encontra,da diversidade flui em vãs passos
o aroma delicado forte de banho não tomado misturado a suor,porque na dor também há  um desejo incontrolável ,o qual chamamos de tesão.
E a brisa ouço,morna,suave,entra em meus tímpanos,são teus sôfregos pincelados em ritmos impressionistas.
Ah,preciso de uma chave para abrir a porta do meu museu e assistir ao meu quadro,de todo este estranho sentido,de formas que desconheço,deste quadro de dor.






Raphael Marques
@raphamarques

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